terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TRANSBORDAMOS TRUMP À FARTAZANA. ATÉ EM PESADELOS. AINDA HÁ PACHORRA?



Trump a todas as horas desde há pouco mais de uma semana. Um fartum. Ele é às refeições, no chuveiro e até quando estamos a obrar – não por acaso lugar próprio para defecar Trump. E Trump quando dormimos? Oh sim! Surge em formato de pesadelos. Muita trampa para o Trump. E pachorra. Muita pachorra para este cromo emporcalhado na fossa do pior que existe em seres ditos humanos. E os que lhe deram a vitória eleitoral, norte-americanos, não são melhores.

No Curto de hoje há Trump… e trampa. Vamos nesta. Continuemos na fossa made in USA e também nas outras que o servidor da cafeína de hoje nos traz. Na falta de melhor, do Expresso…

Bora lá.

Tenham um bom dia, se conseguirem.

MM / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Silvestre – Expresso

O estranho mundo de Donald

Bom dia,

Era uma vez um menino chamado Donald que nasceu em Nova Iorque. A mãe, de origem escocesa, veio para os EUA nos anos 30 do século passado e tornou-se cidadã americana. O pai, nascido no Bronx, era filho de imigrantes alemães. O menino cresceu, enriqueceu, enriqueceu mais ainda, quase faliu, aproveitou para não pagar impostos, voltou a enriquecer. Fez um enorme prédio com o seu nome numa das principais avenidas da cidade. Apesar disso, mudou-se para Washington e vive agora numa bonita vivenda branca, uma das poucas casas que a sua fortuna não pode comprar. É de lá que tem dado as suas ordens. A mais polémica, sobre a imigração, está a causar o caos.

O decreto que suspende durante 90 dias a entrada de cidadãos de sete países ‘suspeitos’ aos olhos de Trump – Líbia, Iémen, Somália, Irão, Iraque e Síria – e proíbe por 120 dias a entrada de refugiados (no caso da Síria sem qualquer prazo temporal) teve ondas de choque por todo o mundo. Basta uma visita rápida a qualquer site de informação para encontrar em grande destaque o decreto de Trump. O Público compilou as principais reações dos líderes internacionais à decisão.

Uma das personagens incontornáveis na história deste decreto é Stephen Bannon, estratega chefe de Trump na Casa Branca, como conta o Vox. É o mesmo Bannon a quem Trump deu um lugar no núcleo duro dos conselheiros de segurança da Casa Branca – o National Security Council – onde têm assento os responsáveis de topo das forças armadas e dos serviços secretos. Uma, mais uma, decisão a alimentar forte polémica.

Até Barack Obama, uma semana depois de sair da Casa Branca, criticou publicamente a decisão e apelou aos americanos para se manifestarem. Também no Partido Republicano há reações adversos. Igualmente contra está o pessoal diplomático e estava também a procuradora-geral que entretanto foi demitida. Claro que, para a administração Trump, o caos nos aeroportos não passam de meros problemas técnicos e/ou culpa dos dos protestos.

Está confuso com os efeitos deste decreto? É perfeitamente normal. Afinal, as próprias autoridades competentes para as aplicar foram apanhadas de surpresa e não sabiam muito bem como fazê-lo. O The New York Times preparou um guia para o ajudar a perceber.

Também as relações entre os velhos aliados EUA e Reino Unido estão a ser perturbadas. Mesmo depois de Theresa May ter sido o primeiro chefe de Estado a visitar novo inquilino da Casa Branca. Há uma petição com quase 1,5 milhões de assinaturas na correr para cancelar a visita de Trump a terras de Sua Majestade agendada para este ano. Até Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros, foi apanhado na enxurrada. Johnson disse que os cidadãos britânicos estavam excluídos das limitações impostas pelo decreto presidencial mas foi desmentido pela embaixada dos EUA em Londres.

Nicholas Kristof, duas vezes prémio Pulitzer e influente colunista do The New York Times, cujo pai veio da Europa no final da Segunda Guerra Mundial, aproveitou para apresentar a Donald Trump a história da sua família.

As empresas tentam adaptar-se como podem mas gerir o incerto e o imprevisível é tarefa sempre difícil. No final da semana passada, o Financial Times contava como muitas empresas estão a contratar especialistas em comunicação e advogados para tentar sobreviver. Já a revista britânica The Economist fazia capa com a ameaça que paira sobre as empresas multinacionais que vivem das cadeias de produção espalhadas pelo Mundo. Com o título – “In retreat – Global companies in the era of proteccionism” (Em retirada – As empresas globais na era do protecionismo) – avisava que as multinacionais já “estavam em retirada bem antes da revolta populista de 2016”, mas que agora a situação será ainda mais grave e “o impacto no comércio global será profundo”. E há também empresas que optam para confrontar ou, pelo menos, tentar aliviar os efeitos que as medidas do novo presidente dos EUA podem causar. E há vários exemplos, como se pode ler no Eco. Por cá, a Fundação Champalimaud já anunciou que está disponível para receber todos os cientistas que não possam regressar aos EUA.

Se acha que o mundo de Trump é estranho, nada como ler o memorando para acabar com o Daesh assinado no final da semana passada. O mundo pode ficar descansado porque a administração Trump vai derrotar o Daesh. Como? “Dentro de 30 dias, um esboço preliminar do Plano para derrotar o Daesh deve ser submetido ao Presidente pelo secretário da Defesa”.

Hoje é dia de nomeação do juiz do Supremo dos EUA que irá substituir o conservador Antonin Scalia um ano depois da sua morte. A escolha vai ser para desempatar o sentido do voto dos juízes órgão de topo do sistema judicial americano. O Fivethirtyeight, do mago dos números Nate Silver, faz as contas aos cenários possíveis. Espera-se uma nova potencial polémica quando for conhecido o nome hoje ao final do dia nos EUA.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro

O Benfica perdeu 0-1 contra o Vitória de Setúbal e está agora com apenas um ponto a mais do que o FC Porto que, apesar das dificuldades, saiu sábado à noite do Estoril com três pontos. A equipa de Rui Vitória não foi suficientemente agressiva, escreve a Lídia Paralta Gomes na Tribuna do Expresso, onde lembra que as “Cegonhas vêm de Paris e as saudades também”. Saudades, lá está, de Gonçalo Guedes que tanta falta fazia no Bonfim. À chegada ao Seixal, os jogadores encarnados foram recebidos com petardos por adeptos descontentes (como se vê no vídeo da SIC).

Na política, o jogo é outro e quem vai entrar em campo novamente é a ‘geringonça’. Desta vez, o embate é por causa da transferência da Carris para a Câmara de Lisboa. A questão pode ter apreciação parlamentar e isso será um novo teste à solidez do acordo PS-PCP-Bloco-PEV. O governo, apesar de tudo, está confiante.

Morrem, em média por dia, 298 pessoas em Portugal. O jornal i faz as contas às principais causas.

Ontem, 15 crianças de uma escola de Lisboa foram hospitalizadas por urticária, conta o Diário de Notícias.

Na economia, há boas e más notícias. Primeiro, as boas. Duas. Primeira: a taxa de desemprego baixou em dezembro para 10,2%, o valor mais baixo desde 2009. Há quem acredite que pode ser este ano que baixa a fasquia dos dois dígitos. Segunda: a confiança dos consumidores atingiu o valor mais alto em quase 17 anos. Depois, as más notícias que estão mais ou menos relacionadas: a emissão de dívida realizada pelo Estado português este ano foi um dos piores negócios do ano (escreve o ECO) e Portugal é um dos países da zona euro que não está a salvo da subida dos juros (relata o Observador a partir de uma análise do Commerzbank).

A propósito de dívida e de juros vale a pena ler o estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) da autoria do ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar, Luc Eyraud e Tigran Poghosya onde é analisada a “política” por detrás da gestão orçamental na zona euro. Dizem-nos, Gaspar e companhia, que há vários enviesamentos políticos, que os governos fixam metas que não cumprem, que são procíclicos mas que, ainda assim, não há favorecimento dos países grandes na aplicação das regras. As regras do Pacto de Estabilidade não estão a ser cumpridas e a solução passa por sanções mais fortes e benesses para os cumpridores (pode ler as principais conclusões no Negócios, no Público e no Expresso). Já o estudo original está disponível no site do FMI.

Ainda na economia, outras notícias rápidas. Os direitos do BCP caíram mais de 20% com os investidores pouco interessados no aumento de capital do banco num dia em que o índice PSI-20 foi penalizado pelos CTT que estiveram em queda livre. Os gestores da Caixa Geral de Depósitos de saída podem ser convidados para assumir outras funções no banco para, assim, não receberem indemnização (conta o Expresso). As medidas extraordinárias no défice de 2016 serão de apenas 200 milhões de euros, segundo o Governo que terá que convencer Bruxelas (refere o Negócios).

José Diogo Quintela, dos Gato Fedorento, reagiu este fim-de-semana no Correio da Manhã à polémica sobre a Padaria Portuguesa de que é sócio e às palavras do seu primo que incendiaram as redes sociais na última semana. E fê-lo, como seria de esperar de um Gato, com humor dizendo, entre outras coisas, que o seu objetivo quando investiu na empresa foi tornar-se num “patrão explorador (passe a redundância”.

Machetes dos jornais:”Fundo americano promete manter equipa de gestão do Novo Banco” (Público); “Governo tem 320 milhões de euros para recuperar escolas do básico, secundário e pré-escolar”(DN); “TAP voa mais barato de Vigo do que do Porto”(JN); “Dez idosos depositados em garagem” (Correio da Manhã); “PSD e CDS a caminho do divórcio nas autárquicas”(i); “Governo negoceia 800 milhões com Bruxelas” (Jornal de Negócios); “Mau fim”(Recorde); “Sombra de campeão”(A Bola); “Lider quebra”(Jogo)

Lá fora 

Uma das notícias que continua a animar o Brasil foi a prisão de Eike Batista, o ex-homem mais rico do país que tinha um mandato de captura e regressou ontem de Nova Iorque. Foi detido à chegada ao Brasil com a promessa de colaborar com a justiça para ajudar a “limpar” o país. A Globo acompanhou toda a viagem e entrevistou Batista antes da partida dos EUA e durante a viagem de avião. O The Wall Street Journal também deu destaque à notícia do homem que já foi o mais rico do Brasil.

O FMI pede a Espanha maior controlo sobre o pagamento do subsídio de desemprego. Na análise regular ao abrigo do artigo IV defende, entre outras coisas, o reforço da “exigência de uma verificação de busca ativa de emprego e da participação em programas de ativação para receber um subsídio de desemprego”.

O Snapchat prepara a entrada em bolsa com uma dispersão na Bolsa de Nova Iorque. A secretária de Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, morreu aos 106 anos em Munique. François Fillon e a mulher foram ouvidos pela polícia por causa da alegada utilização indevida de fundos públicos durante o tempo em que o candidato presidencial francês era deputado.

Acha que é uma pessoa difícil? E isso é mau? A imperdível colunista do Financial Times, Lucy Kellaway, faz o seu mea culpa com orgulho.

FRASES 

“É inconcebível que se negue o direito de entrada a pessoas que têm autorização de residência no país”, Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros a propósito do decreto de Trump a

“Vou ter de dizer aos meus filhos que o papá pode não conseguir voltar para casa”, Mo Farah, atleta britânico de origem somali com várias medalhas de ouro olímpicas

O QUE ANDO A LER

No dia 9 de abril de 1917, Lenine entrou num comboio em Zurique. Oito dias depois desembarcava em São Petersburgo. Pelo meio ficaram quase 3000 quilómetros dentro de uma carruagem, numa Europa em guerra, que atravessou a Alemanha, a Suécia e a Finlândia. Poucos meses mais tarde dava início à revolução. O resto da história é conhecido.

“Lenin on the train” (que esta semana é publicado na versão portuguesa pela Temas e Debates), de Catherine Merridale, conta a história desta viagem peculiar. Uma viagem patrocinada e facilitada por alemães com o objetivo de levar a Rússia a sair - como saiu - da Primeira Guerra Mundial.

A história contada por Merridale, uma especialista em história russa que fez a viagem pelo trajeto de Lenine, não é nova mas é rica em detalhes. Detalhes sobre o ambiente que se vivia na São Petersburgo daquela época, sobre os contactos e conspirações protagonizadas por revolucionários exilados ou sobre a forma como os serviços secretos alemães de tudo faziam para minar os inimigos nos territórios por eles ocupados (da Irlanda ao Afeganistão).

A viagem faz agora 100 anos. É muito tempo, mas a história, já se sabe, tende muitas vezes a repetir-se. Não ipsis verbis, mas com fortes sensações de déjà vu. A ascensão dos radicalismos e dos extremismos é apenas um dos dados que nos ‘leva’ de volta ao início do século XX. Os comboios nem por isso. Hoje as viagens fazem-se muito mais rápido…e, por vezes, as revoluções também. 

Enquanto o mundo pula e avança, nós vamos continuar por aqui a acompanhar tudo em tempo real no Expresso Online e, como sempre, às 18 horas com os principais temas no Expresso Diário. Tenha um bom dia.

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