segunda-feira, 17 de julho de 2017

PASSOS E CRISTAS CONTINUAM A CAVALGAR AS LABAREDAS DO DIABO



Rui Gustavo, do Expresso, já serviu o Curto há algumas horas atrás. Pensamos que chegámos a tempo de abraçar a sua prosa e a paranóia coletiva dos portugueses, o fogo. Os fogos. O inferno. O diabo que foi chamado alto e bom som por Passos Coelho e numa ladainha de oração pela chefe do CDS (cujo nome escapa sempre devido à sua insignificância como líder dos centristas o mais à direita possível).

Os fogos aí estão a dar que fazer, a destruir, a assassinar. A oposição política ao governo monta as labaredas e cavalga as suas tétricas figuras num emporcalhamento que denuncia à distância de quilómetros a sua pretensão de quanto pior melhor. Urge que Costa segure o touro rubro pelos cornos incandescentes e não faça como os seus antecessores, do CDS, do PSD e do PS (o chamado arco dos que se governaram) que foram desgovernos que se estiveram quase completamente nas tintas para esta tomada sazonal das labaredas na floresta de Portugal. 

Como a hiena, que tem uma vida de trampa, a que Deus lhe perguntou do que é que ela ri, assim está Passos e a sujeita líder do CDS, a quem perguntamos nós: protestam de quê? Da trampa que os seus governos anteriormente fizeram nesta triste época que são os fogos que sistematicamente se repetem? É que essa já não pega, o aligeirar das culpas por a situação ter chegado onde chegou está colada à pele dos que fazem o arco dos que se governaram e que são hoje uma oposição de chiqueiro e pouco mais. Assim como está colada ao PS de então, daquele “arco” doentio, recheado de corruptos, vigaristas e ladrões. Como já por alguns foi provado, independentemente de os portugueses considerarem que muitos mais deviam ir para dentro de grades… se houvesse a justiça adequada à democracia. Mas não há. De vez em quando lá surgem uns laivos… O que é mau, por ser só de vez em quando. Adiante.

Um mês se passou da tragédia de Pedrógão Grande e áreas limítrofes. Não basta a homenagem às vítimas, nem a solidariedade já demonstrada. Atuação, é preciso total atuação para minimizar o mais possível os sofrimentos dos que ficaram. Cumpra-se esse dever. Rapidamente.

Agora é em Alijó que o fogo se mantém. Desde ontem e não cede. E em Mangualde também. Dias atrás foi no Alentejo… E aqui e ali. Fogos menos bravos… Mas fogos terríveis.

É tempo de pegar estes fogos pelos cornos incandescentes. Basta! Os antecedentes governantes (CDS, PSD e PS) fizeram que faziam… Mas quase nada fizeram a não ser esbanjar, assim como cócegas às labaredas. Está no tempo de Costa fazer e dos partidos de esquerda que apoiam o governo assim exigirem sem contemplações e sem espetáculo. A vida custa, Costa, mas a morte de populações e da floresta, assim como das casas e empresas, custa muito mais. Avança, Costa, sem medos.

Até amanhã. Fiquem com a memória viva dos que pereceram perante as chamas. E com o sentido de exigência para que tal nunca mais se repita. Assim como o pronto escarro aos que estão a pretender tirar proveitos políticos e eleitorais desta desgraça dos fogos. Concretamente CDS e PSD, como se não fossem responsáveis pelas calamidades avultadamente somadas em dezenas de anos em que também foram governos.

Boa semana. Boas férias. Bons empregos para os que precisam. Boa saúde, que não falte. Melhores e mais decentes e competentes políticos e decisores na boa governação em prol dos milhões de portugueses e de Portugal.

MM | PG

O fogo que não se apaga

Rui Gustavo | Expresso

“Quando mexemos uma peça há milhões de opções mas só uma é a jogada certa.” Não quero ser tão determinista como Bobby Fisher, o perturbado xadrezista americano que foi campeão do mundo e só seria derrotado pela paranóia e mania da perseguição. Mas de tantos milhões de palavras só uma me parece certa para começar este expresso curto: fogo. Ou então, inferno. Juro que preferia falar da vitória de Roger Federer, do regresso de A Guerra dos Tronos ou do europeu feminino de futebol que desta vez vai ter a participação de uma seleção portuguesa.

Mas não dá para fugir da triste efeméride: há precisamente um mês, a 17 de junho de 2017, um fogo que parecia igual aos outros rebentou em Pedrógão Grande, tornou-se incontrolável, matou 64 pessoas e destruiu 200 casas perante a impotência e a desorganização de bombeiros e da Proteção Civil e de quem fez um contrato connosco para nos proteger (estou a falar do Estado, sim). O país só tinha uma opção: uniu-se, juntou dinheiro para doar às vítimas e até Governo e oposição fizeram tréguas para cuidar dos vivos e enterrar os mortos. Trinta dias chegaram para apagar o fogo?

Sara morreu. Tinha 35 anos e foi apanhada pelo fogo. Sarita, como era conhecida na aldeia de Vila Facaia deixou um filho de sete anos e uma irmã com um coração tão grande como fraco. Apesar dos 15 milhões de euros que se juntaram em donativos e fundos e de o Governo já ter definido as regras de acesso aos fundos, Catarina não tem dinheiro nem recebeu ajuda para pagar o funeral da irmã. A história foi contada pela Christiana Martins na edição de sexta-feira do Expresso Diário. Catarina escreveu ao presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a pedir ajuda. Espero que a carta seja lida por todos os que viram o inferno pela televisão. Ajuda a perceber como foi na terra.

Dois dias depois de enviar a carta, Catarina recebeu um telefonema da Segurança Social de Leiria a garantir que se a seguradora não a ressarcisse, seria o Estado a pagar a despesa. O presidente da República ligou-lhe a partir do México a garantir que ele próprio trataria das despesas se o problema não se resolvesse. “Eu atrapalhei-me toda, chamei-o uma série de vezes de professor, e fiquei, mais uma vez, revoltada, porque este telefonema nunca deveria ter partido inicialmente dele.” Exemplar.

De acordo com o Jornal de Notícias, “não há apoios” e o dinheiro não chegou a uma única vítima.o Governo promete que até ao final de julho, daqui a uma semana, a situação estará resolvida.

António Costa disse no fim-de-semana que é preciso “humildade” para “aprender com os erros” e a verdade é que o Governo tem-se esforçado por continuar a errar bastante. A comissão independente nomeada para perceber o muito que correu mal ainda não começou a trabalhar depois de um processo- não lhe queria chamar surreal mas acho que não tenho outra opção - em que os partidos escolhem os seus representantes “independentes”, negoceiam e só depois se começa a trabalhar (neste caso ainda não se começou). A IGAI também ainda não começou qualquer inspeção ao que correu mal e a PJ e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera não se entendem sequer sobre a origem do fogo. Um raio invisível ou mão criminosa? Se não fosse trágico até podia ter piada.

Podia ser a lei a valer-nos: o pacote legislativo com que o Governo se propõe fazer a tão esperada e eternamente adiada reforma das florestas vai a discussão no parlamento daqui a dois dias. Mas corre o risco de ser chumbada porque não há acordo com os parceiros da geringonça (sem ofensa) sobre os poderes e competências da Entidade da Gestão Florestal. Mesmo que seja aprovada, a lei só entrará em vigor no final do ano, depois do verão e da época dos incêndios. Num mês nada mudou.

Indiferente, o inferno continua a arder: no Alijó as chamas obrigaram à evacuação de uma aldeia. Um helicóptero caiu e houve casas e pessoas em risco. Hoje de manhã o fogo ainda não tinha sido extinto. E, adivinhem, o Siresp, o sistema de comunicações que nos custa 40 milhões de euros por ano, voltou a falhar. Com grande humildade o Governo encomendou um estudo a um escritório de advogados para perceber se o contrato feito por um escritório de advogados não lesa os direitos do Estado. Ainda temos mais um mês e meio de verão e calor. Quem acredite, reze. Às vezes é a única opção para escapar ao inferno.

OUTRAS NOTÍCIAS

Começam a faltar os adjetivos para classificar Roger Federer por isso vou usar um inventado: espantabulástico. O tenista suíço ganhou o torneio de Wimbledon pela oitava vez, tornou-se o maior campeão de sempre da prova inglesa e já tem 19 títulos do grand slam, Um recorde do ténis masculino. Tem quatro filhos adoráveis que viram a coroação do pai com relativa indiferença e aos 35 anos está de volta à forma que fazem dele o maior de sempre (já tinha dito isto), o Mozart das raquetas.A oitava maravilha do planeta. Na final de domingo esmagou facilmente o croata Cilic e venceu o torneio sem perder um único set. Houve lágrimas de impotência de Cilic e de felicidade de Federer quando viu os filhos nas bancadas. O suíço já viveu o inferno das lesões, das derrotas improváveis e da queda anunciada. No fim do jogo, disse que “quem sonha” consegue tudo. Ele sonhou e conseguiu.

A seleção portuguesa de futebol começa a disputar na quarta-feira o europeu que se joga na Holanda desde ontem. Isto não seria notícia não fosse o facto de a equipa ser formada por mulheres e de ser a primeira vez que uma equipa feminina portuguesa consegue apurar-se para um grande torneio de futebol feminino. O que é que o Eder tinha escrito naquela luva branca que tirou dos calções quando marcou o golo a França que valeu o título no euro 2016? Believe, não era?

Os venezuelanos ainda acreditam que podem sair pacificamente da situação de pré-guerra civil em que vivem desde o regime do falecido Hugo Chavez. Ontem participaram num plesbicito promovida pela oposição, que controla o parlamento, para dizerem se concordam com as alterações à constituição proposta pelo Governo de Nicolas Maduro e se aceitam um governo de transição. O presidente condena a consulta que considera “ilegal”, mas sete milhões de venezuelanos foram votar. Uma mulher foi assassinada a tiro.

Na Polónia, milhares de pessoas manifestaram-se contra a iniciativa governamental que dá mais poder ao Estado para nomear e destituir juízes. “A Polónia é uma democracia baseada no Estado de direito, não é uma ‘tribunalocracia’”, justificou o ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro. “É assim que a ditadura começa”, avisou o deputado da Plataforma Cívica, Borys Budka. A Polónia é um país da união europeia e a história do endurecimento do regime tem passado mais ao menos entre os intervalos da chuva.

Na Turquia, o presidente Erdogan não deixou muito espaço a interpretações no discurso de comemoração do suposto golpe de Estado falhado do ano passado: “Vamos cortar a cabeça aos traidores.” Não é uma figura de estilo: o presidente quer reintroduzir a pena de morte num país que quer aderir à União europeia.

Manchetes

Público: “Governo abandona projeto de lei do PS sobre alojamento local”. Notícia sobre habitação, a mais recente paixão do Governo, como António Costa anunciou este fim-de-semana.

Correio da Manhã: “Carros rendem 23 milhões /dia ao Estado”. Uma paixão de qualquer Governo: receitas recorde nos impostos.

Jornal de Notícias: “Siresp volta a falhar”. Uma manchete que provavelmente será escrita várias vezes este verão.

Diário de Notícias: “Lutamos contra o sistema que perpetua esta violência e não contra a polícia”. Entrevista com uma das vítimas da alegada violência racista da PSP. Infelizmente não é caso único. A IGAI está a investigar 11 queixas de casos policiais de racismo.

I: “Um mês depois Pedrógão já não arde mas ainda queima”. Por baixo o candidato do PSD à Câmara de Loures faz por provar que o racismo está longe de poder ser declarado como extinto: “Os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado”

O que ando a ver

“Agora é tempo de tristeza”. Documentário do Expresso sobre “uma ferida aberta”, a tragédia de Pedrógão Grande. Sei que sou suspeito, mas é um trabalho notável da Joana Beleza.

É mais o que vou ver logo à noite: Winter is coming e essa não é a única má notícia da sétima temporada de A Guerra dos Tronos: a série só vai ter sete episódios por causa das restrições orçamentais e esta é a penúltima temporada da série que andamos a ver há dez anos. O primeiro episódio chama-se “Daenerys Regressa a Casa”. Se não sabe o que o que isto quer dizer não merece saber.

Por hoje é tudo. E apetece-me fechar com uma canção foleira.“Dont stop believing”, dos Journey. Tenho de deixar de ouvir tanto a M80.

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