sábado, 17 de fevereiro de 2018

MOÇAMBIQUE | O ultimato desnecessário de Iemele


@Verdade | Editorial

Após o bárbaro assassinato de Mahumudo Amurane, a cidade de Nampula transformou-se num verdadeiro caos. Os problemas da urbe agudizaram-se de uma forma impressionante, mostrando claramente que as intervenções que foram feitas reflectiam indubitavelmente o projecto pessoal de Amurane. Com o seu assassinato, a edilidade do mais importante centro urbano do norte de Moçambique abandonou as suas responsabilidades, sobretudo no que diz respeito à remoção de resíduos sólidos, tanto na zona urbana como suburbana, e melhoramento das vias de acesso.

Um dos aspectos que também saltou à vista, após o assassinato de Mahumudo Amurane, foi a invasão aos passeios das artérias de Nampula pelos vendedores ambulantes, situação essa que o então edil, com muita inteligência e sensibilidade, conseguiu controlar. No entanto, invocando a necessidade de limpar a cidade e permitir maior mobilidade dos munícipes, o presidente interino do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, Américo da Costa Iemele, convocou a Imprensa para tornar pública a sua decisão de retirada pacífica dos vendedores ambulantes dos passeios de Nampula.

Iemele disse, socorrendo-se do código de postura municipal, que, apartir de 14 de Fevereiro corrente, fica expressamente proíbido a venda de todo tipo de artigos nas ruas e passeios da cidade de Nampula, dando, assim, sete dias aos vendedores para abandonarem o local. O aviso foi também extensivo aos operadores do comércio formal, aos proprietários das lojas e armazéns. Caso não se respeite esse “ultimato”, usando os meios municipais a sua disposição, Iemele promete uma execução coersiva aos que ganham a vida nas ruas do terceiro maior centro urbano do país.

A decisão de Iemele é, diga-se de passagem, bem-vinda, pois os munícipes de Nampula já estavam a habituar-se a viver numa cidade limpa, e a circularem nos passeios sem esbarrar em bancas ou artigos expostos em plena via pública. Porém, esta decisão do edil interino peca, primeiro, por ser tardia e, segundo, por se tratar de uma retaliação contra os eleitores que na última eleição intercalar para a escolha do presidente do município demonstrou a sua insatisfação em relação ao partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Lembrem-se de que os vendedores ambulantes voltaram a ocupar os passeios a convite do partido de Américo Iemele, sobretudo na pessoa de Manuel Tocova.

Portanto, no lugar de desencadear uma campanha contra os vendedores da rua, o presidente interino da cidade de Nampula devia aproveitar o pouco tempo que lhe resta na gestão do município para ocupar-se no melhoramento os mercados, que se transformaram num atentado à saúde pública, para além de tapar os buracos nas vias e remover o lixo que tem estado a tirar o sossego dos “nampulenses”.

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