quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Nuno Melo e o preservativo


Carlos Carvalhas* | Jornal de Notícias | opinião

O "honorável" deputado ao Parlamento Europeu Nuno Melo não gostou do que se afirmou em crónica da TSF sobre as razões porque o FMI divulgou em Davos um relatório sobre as desigualdades entre gerações que, a meu ver, não foi inocente, tendo por objetivo desviar as atenções do relatório da Oxfam, que revelou a escandalosa acentuação das desigualdades e a apropriação da riqueza criada em 2017 por uma minoria.

Não gostou que se tivesse afirmado que os comentadores de Direita que nunca se debruçaram sobre o relatório da Oxfam se tivessem apressado a comentar o relatório do FMI e deste terem saltado para o envelhecimento da população.

Não gostou que se tivesse afirmado que a acentuação das desigualdades entre gerações e o próprio envelhecimento da população no nosso país resultam também em boa parte (não se disse que era primordial) da acentuação das desigualdades entre o capital e os rendimentos do trabalho e, para o contestar, cita outros países, designadamente do Terceiro Mundo (a que chama razão da ciência).

Ora, nas sociedades rurais e em países pouco "urbanizados" em que uma parte significativa da população vive no campo, tal como acontecia no nosso país, quando uma boa parte da população vivia da agricultura, as famílias numerosas são a norma. Quando afirmei que uma família numerosa é quase um sinal exterior de riqueza, sublinhei "especialmente nos meios urbanos" e referi especificamente o nosso país.

O "honorável" deputado concede que o emprego e a habitação têm importância na demografia, mas nega que no nosso país as desigualdades entre os rendimentos do capital e do trabalho sejam um fator limitador da natalidade e do envelhecimento da população. Mas então a saída de jovens em idade fértil para o estrangeiro não se deve às dificuldades e perspetivas de futuro? E isto nada tem a ver com a concentração de riqueza? O adiamento em ter filhos e em planearem o segundo filho não tem a ver com as condições de rendimento dos casais jovens?

Para o deputado, o grande combate ao envelhecimento da população estaria na diminuição dos impostos sobre os combustíveis (como se o Governo PSD/CDS não os tivesse aumentado) e na diminuição dos "custos dos veículos com maior capacidade, inevitáveis a quem tem mais filhos"! Como se hoje no nosso país, nos meios urbanos, não fossem as famílias ricas com possibilidades de comprarem esses carros, as que têm e podem ter famílias mais numerosas. Quanto aos impostos que cita, basta lembrar-lhe o "brutal aumento de impostos" do vosso ministro Vítor Gaspar, a queda brutal do PIB e do investimento, o aumento do desemprego e as quebras sucessivas do emprego, as reduções no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção... para não falar dos apelos à emigração do vosso querido Governo!

Nuno Melo fica com os cabelos em pé quando se fala em melhor distribuição do rendimento nacional e sobretudo nos aumentos do rendimento do capital.

Só faltou a Nuno Melo, em seu abono citar a tese do seu ex-colega de bancada, o deputado Morgado, para quem só deveria haver "ato sexual" para procriar! Sem preservativo, talvez a natalidade aumentasse, por isso, na sinecura do Parlamento Europeu, o que lhe sugiro é que releia os versos de Natália Correia sobre o "truca-truca" do Morgado, a verdadeira "demografia do CDS".

"Já que o coito - diz Morgado - tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino; e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação prova de que houve truca-truca. Sendo pai só de um rebento, lógica é a conclusão de que o viril instrumento só usou - parca ração! uma vez. E se a função faz o órgão - diz o ditado - consumada essa exceção, ficou capado o Morgado". Ponto Final

* Membro do Comité Central do PCP

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