quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ELEIÇÕES EM ANGOLA 2012 – IV

 

Martinho Júnior, Luanda
 
UM “OPORTUNO PILÃO POLÍTICO”
 
15 – Assim como o milho para se transformar em fuba, de entre outras operações tem de ser pilado e triturado, também o eleitorado, em especial o jovem, também tem de o ser politicamente, a fim de ser captado para outras aderências (a fuba é cozinhada com a aderência de milhões de partículas de milho pilado).
 
Para o uso do “pilão” é preciso mais persistência e força que propriamente refinação do gesto, pelo que em relação especialmente à juventude, “mensagens-força”, palavras de ordem curtas, tirando partido de emoções, podendo chegar ou não às provocações, é tudo o que “basta”… pelo que desnecessário se torna longos Programas ou Manifestos Eleitorais.
 
Este princípio une a CASA-CE, “Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral” não só à sua origem, mas a outras tendências que por quaisquer razões não tiveram expressão apta para estas eleições, como por exemplo o Bloco Democrático, ou as FLEC sob orientação duma parte do clero católico em Cabinda.
 
A CASA-CE aglutinou essas tendências e direccionou as suas opções mais substantivas para alguns extractos de jovens desencantados sobretudo com o MPLA, que se procuraram atirar principalmente contra a figura do seu Presidente José Eduardo dos Santos que “acusam só” de estar no poder há mais de 3 décadas, sem nunca ter sido eleito.
 
A “engenharia” e “arquitectura” da CASA-CE, chegou mesmo em tempo oportuno: se não fosse assim ficaria numa mó sócio-política tão de baixo que se esvairia para além da FUMA… esfumar-se-ia!
 
… Mas a CASA-CE não se esfumou!...
 
A Unita é o corpo principal do pau e a CASA-CE é o ponto que maior impacto causa no milho a pilar!
 
16 – Agora que José Eduardo dos Santos está a ser eleito, esses jovens vão provavelmente encontrar pela certa outros obstáculos, pois em função da histórica cultura do movimento de libertação em prol da identidade nacional, “de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste”, terão mais resistências à sua utilização, para não dizer à sua “manipulação”.
 
O Wikileaks divulgou as conexões ocorridas a seu tempo entre o Embaixador norte americano Dan Mozena e Chivukuvuku, pelo que é legítimo que se comece a considerar que esses grupos de jovens, entre eles alguns “raps”, são providenciais “manipulações” e “instrumentalizações” que respondem a mecanismos de pressão e interesses conjugados com textura externa e interna, que passam também pela CASA-CE, como pela UNITA, ou não fosse a “música rap” tão repetitiva nas notas, quanto o é o gesto rítmico de pisar a fuba utilizando um “pilão”!
 
17 – Como partido formatado “em cima dos acontecimentos”, saído dum berço como a UNITA, a dimensão e os resultados eleitorais da CASA-CE assumiram-se no 3º posto dos partidos como um “pilão” que abre caminho sócio-político e psicológico com algumas “pernas para andar”: demonstrou-o na sua amplitude nacional e na inteligência de sua actuação reflectida no estudo comparado do percentual que obteve.
 
A nível nacional a CASA-CE obteve 6,06% de votos do eleitorado que foi às urnas, o que é significativo para Angola, se pensarmos que isso conjuga-se tacitamente com os ganhos obtidos pela UNITA.
 
A “divisão” que têm de provar ser efectivamente real, com o andar do tempo parece-me proverbialmente desculpável: pelo menos nas presentes condições “deu lucro”!
 
Dessa forma é de esperar que pelo menos para as autarquias em 2014, as condutas sócio-políticas se mantenham “conjugadas” entre a CASA-CE e a UNITA!
 
17 – Abaixo da média nacional percentual de 6,06%, a CASA-CE, agora 3º partido em termos “representativos” esteve em 14 das 18 Províncias, entre elas todas as Províncias sem fronteira, à excepção da capital, Luanda, onde obteve um percentual de 12,98% de votos favoráveis.
 
A CASA-CE foi 2º mais votado no Cuanza Norte (4,96%) e no Namibe (7,44%), nesta última Província acima da sua média nacional (conseguiu um percentual interessante na cidade capital provincial).
 
Foi 4º mais votado no Moxico (1.09%) e na Lunda Norte (1,87%), sendo 5º na Lunda Sul (1,04%), Províncias onde a influência “federalista” (passo a ironia) do PRS é evidente.
 
A CASA-CE esteve com maior percentual que a sua média nacional quer na Província do Zaire (7,69%), quer em Cabinda, onde atingiu o máximo por que aceitou exprimir as intenções de voto das tendências FLEC (13,92%).
 
Tal como a UNITA é importante notar isso, como resultado dum exercício vocacionado para as plataformas humanas que operam em sectores como o petróleo e o gás.
 
18 – A imaturidade da formação política foi compensada pela pressão exercida em Luanda, não na periferia urbana Norte (Cacuaco) e Leste (Viana), mas precisamente no centro político-administrativo mais importante do país e na área de periferia e expansão Sul, Belas.
 
No que diz respeito aos percentuais em Luanda, é interessante verificar que:
 
- Teve baixa expressão no Icolo e Bengo (1,89%) e no Cacuaco (5,70%), abaixo da sua média nacional (6,06%);
 
- Teve, entre a sua média nacional e a sua média na Província de Luanda (12.98%), incidências progressivas em Quiçama (6,26%), Viana (8,02%) e Cazenga (12,09%);
 
- Recebeu votos favoráveis acima da sua média em Luanda quer em Belas, onde obteve um percentual de 14,29% quer em Luanda com 16,74%!
 
Estes dados espelham, apesar da apressada formação (antes eu considerei formatação), uma tentativa de incidência nos centros urbanos da capital e nas proximidades dos mecanismos de decisão nacional, pelo que neste caso é de esperar esforços de, pela base, a CASA-CE procurar ganhar espaço no sistema político-administrativo central e também por dentro do sector do petróleo (inclusive no administrativo da SONANGOL).
 
19 – A CASA-CE tacitamente “conjugada” com a UNITA, é um “pilão” que afasta as intenções de voto quer dum histórico como a FNLA, quer dum “federalista” como o PRS, que foi 3º preferido em 2008, agora mais remetido ao Leste do país.
 
Em qualquer dos casos isso evidencia o “conflito de gerações”, particularmente opondo-se àquelas velhas gerações históricas que se enquistaram na FNLA, assim como em relação ao “voto étnico autóctone”, de acordo com a expressão sócio-política do PRS com impacto no Leste.
 
O seu trampolim inicial deve-se à captação de alguns sectores da juventude, sobretudo na capital, o que é indicador que a CASA-CE se vai propor ao papel a que se dispunha o Bloco Democrático, uma contabilidade percentual perceptível em Luanda e Cabinda.
 
A mão de alguns grupos católicos específicos, quer no seio da intelectualidade de Luanda, quer em Cabinda, fazem parte do trampolim sócio-político que dão força ao “pilão” e o vão “abençoando”.
 
Esse é um processo que é corolário de conexões que eu já havia vindo a citar desde 2003, quando em Cabinda ainda mal se percebia onde tinham início e onde acabavam grupos da FLEC, Igreja Católica e “Oppen Society” que pela “previdência divina” já nessa altura se mesclavam e se confundiam!.
 
Naquela altura também era mais difícil saber-se, muito menos avaliar-se, pois não havia um “bué de bocas” como o Wikileaks!
 
Gravura: A afirmação da CASA-CE: para uns uma “nova onda amarela”, para outros “a febre amarela” do crescimento humano em Angola reflectida nos Partidos e nas eleições, sugerida pelas “primaveras árabes”.
 
A consultar:
- Demografia, identidade nacional, assimetria e eleições – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/08/angola-demografia-identidade-nacional.html
 
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1 comentário:

Anónimo disse...


A CASA-CE É A "FEBRE AMARELA" DA UNITA !!!

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